A Teoria do Cabelo Natural
Como o alisamento de cabelo está fortemente ligado à falta de confiança?
Para a surpresa da maioria da pessoas que me conheceram depois dos 14 anos, meu cabelo natural é ca-che-a-do.
Não que eu tenha começado a alisa-lo só à alguns anos atrás. Pelo contrário, desde que eu era uma criança, me lembro de implorar para que minha mãe fizesse chapinha no meu cabelo.
Mas, afinal, como essa coisa começou?
Tanto minha família materna quanto a paterna é totalmente miscigenada. Tenho um avô italiano, uma avó negra, um outro avô com origens indígenas e a outra avó branca. Meu pai é branco dos olhos verdes e cabelo liso. Já a minha mãe, é parda do cabelo enrolado e olhos castanhos. O resultado? Eu sou uma garota branca, olhos castanhos e com o cabelo mais enrolado de ambas as famílias (pelo menos quando eu era pequena).
Cresci minha vida toda ouvindo que tinha cabelo “ruim”, “Bombril”, “duro”, “juba de leão” e que se eu alisasse o cabelo seria uma garota “muito mais bonita”. Tudo isso, da minha própria família (e não se engane, era de ambas as partes). E, infelizmente, nos anos 2000 não existia essa coisa de “autoaceitação”, você precisava ser o padrão ou sofreria as consequências (não que hoje seja muito diferentes, mas estamos engatinhando).
A minha “eu” de 8 anos odiava se olhar no espelho. Odiava como o próprio cabelo não era “tão bonito” quando o da coleguinha que tinha o cabelo liso. Quanto o das primas que não precisavam se preocupar em “domar” o próprio cabelo assim que saía do banho. Quanto o da artista que eu via na TV.
Eu tive uma longa jornada até chegar no patamar em que estou com a minha aparência e com o meu cabelo já que, para mim, isso sempre esteve interligado. A minha eu de 10 anos, enfiou na cabeça que eu jamais seria bonita o suficiente se meu cabelo não fosse liso o suficiente… Então eu passei por processos que nenhuma criança deveria passar.
Aos 11 minha tia achou um salão que passava relaxamento em crianças menores de 16 anos. Eu fiquei horas e horas ali, inalando aquela merda e odiando cada segundo daquilo. Aos 12, percebi que os fios do meu cabelo tinham sido modificados permanentemente. Eu jamais voltaria a ter meus achos de verdade. Aos 13, essa mesma tia, começou a “fazer massagem” no meu cabelo numa tentativa que ele ficasse “mais baixo e mais brilhoso”, mas, aos 14, eu descobri que era progressiva com formol (nem eu e nem a minha mãe sabíamos). Aos 15 eu decidi passar pela transição capilar.
Foram os piores anos da minha vida.
Aos 16 eu descobri como alisar meu próprio cabelo com chapinha. A alisa-lo e cuidar dele sem usar química, somente fonte de calor. Mas hoje eu tenho 21 anos e ainda não consigo me olhar no espelho com o cabelo molhado.
Descobri a Teoria do Cabelo Natural quando estava ouvindo sobre uma análise do filme “Como Perder Um Homem Em 10 Dias”. Andie é uma escritora de uma revista para mulheres. Passa a maior parte do filme lutando contra a atração que sente por Ben (a qual ia contra a proposta de artigo que ela estava escrevendo); A ligação da autoaceitação da personagem e o cabelo está no exato momento em que ela reconhece que está apaixonada por ele (e, consequentemente, que a matéria não é importante o bastante) e assume seu cabelo natura, metaroricamente evidenciado pela cena de banho. Dali em diante, a protagonista passa a usar o próprio cabelo em seu estado natural (ondulado) em vez do liso (o qual faz uma referência à sua confusão emocional profissional do começo do filme).
A única vez que Andie volta a alisar o cabelo, é justamente na cena do baile, onde, mais uma vez, ela se vê em um conflito emocional. O prazo final da revista acabava naquele dia e ela ainda estava apaixonada por ele. Porém, quando ela finalmente resolve se demitir da revista e ir atrás de uma vaga em um setor o qual ela realmente quisesse escrever, Andie está com o cabelo natural.
Quando finalmente falei sobre o meu receio em relação ao meu cabelo com minha psicóloga (há três anos atrás), ela me alertou sobre o fato de que a forma que eu me vejo está diretamente ligada a como me relaciono e que, por isso, eu sou uma desgraça quando o assunto é relacionamentos.
Coincidentemente ou não, a última vez que namorei foi há 7 anos atrás, justamente quando decidi passar pela transição capilar e (entre outros milhares de motivos) teve fim exatamente quando voltei a alisar o cabelo.
Será que isso está realmente relacionado dentro de mim como uma barreira inconsciente?
Algumas semanas atrás, conversando com o (já mencionado anteriormente) vascaíndo, acabamos comentando sobre tomarmos banho junto e ele me perguntou se podia lavar o meu cabelo.
Você pode pensar “Ah, que bobagem. O que é lavar o cabelo em meio a tomar banho juntos?”, mas a questão é que eu entrei em PÂNICO. A primeira coisa que veio na minha mente (e que não consegui pensar melhor antes de deixar escapar pela minha boca) foi: “Somos tão íntimos assim?”.
Ele não entendeu nada. Eu não entendi nada. Estávamos tão confusos, um quanto o outro. Foi aí que realmente comecei a cogitar que o comentário da minha psicóloga, de três anos atrás, realmente tenha se tornado palpável no meu dia a dia.
Talvez eu não consiga dar certo com ninguém porque, assim como a Andie em “Como Perder Um Homem Em 10 Dias”, eu esteja presa em uma ideia de autoaceitação que não é real. Inventando modos para conseguir me olhar no espelho em vez de começar a curar as feridas da minha “eu” de 12 anos.
Talvez eu precise começar a tirar minhas máscaras e me encarar no espelho. Idependende do medo do que eu encontre no reflexo.
Eu tenho um sério problema com meu cabelo. Ele, natural, é ondulado 2A e 2B, porém a minha família nunca "aceitou", já que meu cabelo na infância era bem lisinho, na verdade, quem não "aceitava" era meu pai. Comecei a cuidar dele da forma que qualquer ondulada cuidaria, mas meu pai sempre falava: "seu cabelo é liso!", isso acabou criando uma insegurança em mim, olhava-me com o cabelo ondulado no espelho e não me reconhecia mais... Parei de finalizar, comprei uma escova secadora e comecei a cuidar dele como se fosse liso. Bom, eu superei isso! Hoje eu realmente, digo com todas as palavras, que me reconheço mais com o cabelo liso e grande! Não por causa do meu pai, mas eu entendi que eu só cuidava do meu cabelo como ondulado porque eu queria atenção de um boyzinho (sim, mas não me julguem, todas já fizemos loucuras por alguma pessoa) e eu me reconhecia de cabelo liso por causa da minha infância! Hoje eu amo meu cabelo, cuido dele direitinho e quando eu não gosto dos cachos naturais nas pontas que o cabelo faz, eu aliso. Viva a forma de se expressar pelo cabelo!
acredito sim que o cabelo mexe completamente com a autoestima e como nos relacionamos com nós mesmas, principalmente a gente que nasceu com a cabelo cacheado e viveu os anos 2000. também precisei passar pela fase de reconciliação com o meu "eu natural" para, no fim das contas, descobrir que eu me sentia bem comigo mesma tento o cabelo liso (porque não gosto de ficar horas fazendo fitagem, passando produtos e etc). amadureci, me cicatrizei e percebi que eu gostava de acordar com o cabelo já pronto para sair. mas não nutro nenhum ressentimento por aquela outra versão de mim, agora acho ela bonita também. sem dúvidas você sentirá mais confiança e tranquilidade consigo mesma ao se reconciliar com o seu passado. mesmo que depois você tome uma decisão diferente (como eu). o importante é que você possa decidir.